quarta-feira, 16 de maio de 2012

Entrevista com Paulo Melo


A equipe do Cultura Jovem entrevistou o ator e diretor de teatro Paulo Melo. Que esclareceu algumas de nossas dúvidas.

Repórter: Como surgiu o seu “dom” de fazer teatro?

Entrevistado: Dom de fazer teatro? Na verdade, acho que não foi bem isso. Eu não acordei e disse: vou ser ator. Comecei a fazer teatro fazendo peças no Elisa, no noturno, em 1992, com uma professora chamada Ione Prudêncio, professora de Ensino Religioso. E ela propôs que nós apresentássemos trabalhos com temas transversais, que era: meio ambiente, violência sexual, gravidez na adolescência... Através de meios diferentes, e eu com mais quatro amigos fizemos em forma de teatro. E esse grupo vingou lá dentro, ficamos mais ou menos dois anos dentro do Elisa apresentando peças, então, essas peças começaram a ser convidadas por outras escolas, pela 10° CRE, na época, eu tinha dezessete anos e naquele mesmo ano essa peça ganhou o Festival Estadual de Teatro, então a gente acabou descobrindo que tínhamos algo diferente nas mãos. Então, acabei fazendo o vestibular pra Artes Cênicas.

Repórter: Fale um pouco sobre o tempo que você estudou no Elisa.
Entrevistado: O Elisa era uma escola de muita qualidade, ter no currículo que tu estudou no Elisa era muito importante. Eu não fiz cursinho, e passei em 4° lugar no meu curso. Aliás, muitas pessoas brincam que eu passei só porque era artes cênicas, mas eram cinco por vaga. Na época, era uma escola de muito respeito e acredito que continue até hoje.

Repórter: Como você vê os novos talentos que tem surgido ultimamente?

Entrevistado: Eu acho que ainda Uruguaiana não despertou para as artes cênicas. Tem vários fatores como preconceito. Esses talentos talvez não sejam descobertos, porque eles não conhecem o que é o teatro, e se você não conhece não tem o desejo de fazer.

Repórter: Existe rivalidade entre as companhias de teatro?

Entrevistado: Eu acho que sim, porque os grupos de teatro ainda não conseguiram ter uma identidade, então, na verdade, um fica tentando copiar a identidade do outro. É uma coisa que eu tenho lutado bastante com os meus atores. Uma coisa que é muito ruim é que nós não temos uma escola teatral. Muitos que têm interesse nisso acabam indo fazer faculdade em outras cidades e não retornam, então, isso dificulta ter uma identidade teatral da cidade.

Repórter: Em sua opinião, o que é necessário para ser um bom ator?

Entrevistado: Disciplina, porque ele tem que acordar e saber que o que ele está fazendo é um trabalho como outro qualquer. E assim, como outra profissão tem horários. O ator não pode só pensar no personagem na hora do ensaio tem que ter uma rotina.

Repórter: Na vida, qual você julgaria seu melhor papel?

Entrevistado: Eu acho, que meu melhor papel é como escritor. A coisa que eu melhor sei fazer é escrever.

Repórter: O que você acha mais fácil, fazer rir ou chorar?
Entrevistado: Fazer chorar. Porque eu acredito que as pessoas escondem o que elas sentem e, quando elas vão ver o espetáculo, elas, de alguma maneira, se abrem e estão dispostas a ver o que o ator está propondo. E quando propõe o choro, o drama, a tragédia, elas se envolvem. Já o riso não, o riso o ator tem que conquistar.

Repórter: Para ser um ator de sua companhia o que você julga necessário?

Entrevistado: Vontade, muita vontade de fazer teatro. Eu sempre digo que ator são cabides de pessoas, como é que eu vou fazer outra pessoa, se eu não conheço o meu cabide. Eu digo sempre que, nos ensaios, eu sou um mediador.

Repórter: Existe realmente o famoso beijo técnico?

Entrevistado: Eu não acredito em beijo técnico. Eu acho que não existe envolvimento sentimental por parte dos atores ao fazer um beijo, mas existe o envolvimento da personagem. É a minha boca, são as minhas percepções nervosas que estão ali, só que quando não tem sentimento, essa divisão é que faz com que seja técnico.

Repórter: Tem alguém em quem você se inspira?

Entrevistado: Na vida, foi a minha professora de expressão dramática, Nair D’agostini, ela me trás essa referência como pessoa. Ter ética, ter moral, isso é importante como profissional. Ela me disse, uma vez, que não interessa quem sentar na tua frente, não interessa que pessoa estiver ali, é importante que você respeite ela.

Repórter: Uma palavra?

Entrevistado: Amor.

Repórter: Uma frase?

Entrevistado: A dor nunca passa, ela simplesmente diminui.

Repórter: Uma peça teatral?

Entrevistado: Império das meias verdades, Gerald Thomas.

Repórter: Uma pessoa?

Entrevistado: Minha mãe.

Repórter: Uma referência?

Entrevistado: Gandhi, esse desprendimento que ele dizia: “Só leve consigo aquilo que você pode carregar.” Hoje em dia, a gente quer tanta coisa, queremos sucesso, mas o que é o sucesso? Então, eu acho que isso que ele falou é pra vida inteira.

Repórter: Um conselho pra novos atores?

Entrevistado: A gente tem que mudar a maneira de pensar. Eu fiquei dirigindo o “ Eu teatro...” e eu acho que a gente conquistou vários prêmios, nos tornamos uma das melhores Companhias do RS, mas eu acho que não conseguimos enxergar que Uruguaiana precisa nos enxergar. Qualquer companhia que vier tem esse desafio, fazer com que Uruguaiana enxergue que tem teatro, que precisa de teatro, que é fundamental pra mudar o mundo. Não só teatro, mas a arte, em geral.

Taciana Machado - Turma 31 E

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