quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ame-a ou deixa-a?


Aqui, há mais fotos da cidade feitas pela Laura!

Nasci e fui criada sob o gentílico de Uruguaianense. Sou uma das 22 pessoas que existem por cada quilômetro quadrado daqui, segundo o IBGE. “Feliz tu nasceste a beira de um rio, sorrindo ao luar”. Surgida em um plano simétrico, milimetricamente calculado, como ponto estratégico para os militares e para o país, esta cidade fronteiriça, entre tantas outras surgiu por que era a apropriada... Simples assim.

Terras a perder de vista, verdes horizontes que pertencem aos mesmos “Senhores Feudais” há mais gerações do que se possa contar. Ainda que a economia seja primariamente voltada pela agropecuária somos 94% urbanos. Uma cidade de desigualdades, uma cidade de disparidades, como outras tantas em nosso imenso país. Existem as elites e existem as mazelas... Um mundinho quadrado, com uma mentalidade meio retrógrada, meio provinciana. Um encontro ainda bruto entre o passado e futuro. Em que qualquer mudança de hábito e de opinião é “comunismo” ou "anarquismo”, e questionar pseudo-samaritanos é nadar contra a corrente ou política de extrema esquerda. Um quadrado que aparece no mapa em forma de triângulo. 

Sempre me achei meio azarada, ao pensar nessa cidade, como uma cidadã nascida um pouco à esquerda do zero, Lá onde Judas perdeu o que sobrou da bota direita, assim como acreditava que estávamos a pelo menos 640 km da civilização mais próxima, nossa capital. Somos assim, meio separatistas logo quase “Um país do sul” meio à parte, falamos com acento próprio dotados de “Bah”, “Tchê” e “Barbaridade”, enrolamos um bom Portunhol, que acreditamos de modo prosaico* ser um fluente espanhol, atravessamos a ponte fazemos compras logo ali, em outro país, domingo tiramos tempo para ir a praça do barão, onde não importando a idade, nos sentimos em casa. Quando um filme chega ao cinema é porque já está disponível na locadora. Mesmo que alguns de nós não sejamos tradicionais extremistas, cantamos o hino Rio-Grandense plichados de bota, chapéu e bombacha, com orgulho e bradamos para que “Sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra” , por todos os dias que antecedam o 20 de setembro celebrando nossa Guerra Perdida defendemos nossas tradições, nossa identidade. Somos assim... Meu pai, carioca da Guanabara, radicado aqui, ironicamente falou certa vez “Mas tchê...só esses gaúchos pra comemorar um guerra que perderam.” enquanto tomava chimarrão. Assim é o nosso estado, assim é nossa cidade, por mais que não sejam todos nativos a cultura gaúcha, acabam por amá-la e tornam-se também parte dela .
 
Quando estamos indo ao longo da estrada se afastando da cidade, a noite eu olhava ao céu estrelado sem interferência das luzes da cidade. Assim sentia-me meio melancólica ao pensar se fosse a ultima vez que estivéssemos a olhar a fortaleza que foi o meu lar por tanto tempo. Existe, mesmo que inconscientemente esse vazio. Em algum momento da vida iremos sair por aí sem destino e sem direção para conhecer o mundo por além da porta. E ainda que não voltemos como filhos pródigos um pouco do que somos ficará e uma parte dela será nossa... para sempre... A filha predileta dos farrapos... A mãe querida de seus filhos...

“Eu sou uma rodovia de mão única, Sou uma estrada para longe. Que segue você de volta para casa”

(Foo Fighters – Times like these)

Maria Eduarda Deitos - Turma 31 
Laura - Turma














Um comentário:

  1. Texto incrível, uma visão histórica, pessoal e até achei poética sobre a cidade em que nascemos ou apenas moramos

    ResponderExcluir